Teleneuropsicologia

Escrito por Cérebro e Afeto em 14/05/2020

Se você já deu uma olhadinha no nosso site ou mesmo se interessou por Neuropsicologia, deve ter percebido que uma das intervenções mais procuradas nesta área é a de avaliação neuropsicológica. 

Este procedimento busca avaliar o desempenho em funções atencionais,  de percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, processamento da informação, visuoconstrução, afeto, cognição social, habilidades motoras e executivas. A avaliação também busca coletar dados clínicos para auxiliar a compreensão e a extensão das perdas cognitivas que cada patologia provoca no sistema nervoso central de cada paciente, assim como explora os mecanismos preservados do funcionamento cognitivo. Para tal, fazemos uso de testes neuropsicológicos, tarefas complementares, entrevista de anamnese e observação do comportamento. Assim, a partir de uma avaliação neuropsicológica é possível estabelecer tipos de intervenção e reabilitação específica para indivíduos com disfunções adquiridas, genéticas, primariamente neurológicas ou secundariamente a outros distúrbios (transtornos psiquiátricos por exemplo).Regularmente, a avaliação neuropsicológica é realizada de forma presencial. 

Diante do contexto atual de pandemia tornou-se mais comum a realização de alguns procedimentos médicos através de meios digitais. Assim, acompanhando a necessidade de manter intervenções mesmo num contexto atípico, onde o distanciamento é visto como uma prioridade para manter a saúde física, o mesmo aconteceu com a  Neuropsicologia. 

Por isso, viemos aqui escrever um pouquinho sobre a Teleneuropsicologia (prestação de serviços de neuropsicologia utilizando tecnologia de telecomunicação) e a avaliação: uma opção válida em vista do atual contexto de pandemia, prezando a segurança do paciente e do neuropsicólogo sem deixar de lado um possível auxílio na escolha da intervenção medicamentosa ou terapêutica adequada. 

Embora o contexto de pandemia seja muito recente, as intervenções psicológicas online já contavam com diretrizes específicas do Conselho Federal de Psicologia (resoluções do CFP 09/2018, 11/2018 e 06/2019) nas quais a avaliação neuropsicológica pode ser incluída. Órgãos reguladores internacionais também estabeleceram normas e padrões para este tipo de atendimento tais como as propostas pela APA (American Psychological Association) e INS (International Neuropsychology Society).

Em outros países, a possibilidade da intervenção psicológica e neuropsicológica remota já vem sendo estudada há algum tempo. Estudos mostram que esta possibilidade de atendimento é possível e viável (Galusha-Glasscock et al, 2016; Brearly et al., 2017; Wadsworth et al, 2017). Wade et al. mostrou algumas vantagens do atendimento psicológico remoto, tais como: aumento de motivação da família, compreensão da dinâmica familiar/ambiente casa, aliança terapêutica semelhante ao atendimento presencial, menor estigma ou atitudes negativas, progresso semanal equivalente ao atendimento face-a-face, facilidade de agendamento e maior comparecimento (Wade et al., 2019). Outro estudo de 2013 com 40 participantes, com diagnóstico de CCL ou DA ou saudável, todos submetidos a avaliação presencial e remota, e a realização de testes randomizados, mostrou que mais da metade dos individuos não apresentaram preferência pela modalidade presencial (Parikh et al., 2013).

Ao encontro desses achados e possibilidades, as editoras nacionais já estavam se alinhando a esse novo meio de intervenção e por isso já podemos contar com testes neuropsicológicos validados e normatizados para a nossa população e aprovados pelo SATEPSI para a avaliação online, o que permite que a avaliação neuropsicológica mantenha seu caráter consistente e robusto.

Além dos aspectos relatados anteriomente, vale ressaltar que nós neuropsicólogos também possuímos uma ampla gama de competências e conhecimentos que vão além dos procedimentos tradicionais da avaliação presencial, ou seja, é possível associar a tecnologia à experiência profissional na área e prezar, ainda assim, pela continuidade da melhor opção para auxílio de sua saúde. 

Referências Bibliográficas:

Galusha-Glasscock JM, Horton DK, Weiner MF, Cullum CM. Video Teleconference Administration of the Repeatable Battery for the Assessment of Neuropsychological Status.Arch Clin Neuropsychol. 2016 Feb;31(1):8-11.

Brearly TW, Shura RD, Martindale SL, Lazowski RA, Luxton DD, Shenal BV, Rowland JANeuropsychological Test Administration by Videoconference: A Systematic Review and Meta-Analysis.Neuropsychol Rev. 2017 Jun;27(2):174-186. 

Wade SL, Raj SP, Moscato EL, Narad MEClinician perspectives delivering telehealth interventions to children/families impacted by pediatric traumatic brain injury.Rehabil Psychol. 2019 Aug;64(3):298-306.

Parikh MGrosch MCGraham LLHynan LSWeiner MShore JHCullum CMConsumer acceptability of brief videoconference-based neuropsychological assessment in older individuals with and without cognitive impairment.Clin Neuropsychol. 2013;27(5):808-17.

Wadsworth HE1, Dhima K1, Womack KB1,2, Hart J Jr1,2, Weiner MF1, Hynan LS1,3, Cullum CM1,2,4. Validity of Teleneuropsychological Assessment in Older Patients with Cognitive Disorders.Arch Clin Neuropsychol. 2018 Dec 1;33(8):1040-1045. 

https://www.the-ins.org/wp-content/uploads/2020/03/SNS_SNAPP_Teleneuro_DOC-3-21-2020-Final.pdf
https://www.apa.org/practice/guidelines/telepsychology

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