A vida tecnológica: até onde podemos ir?

Escrito por Cérebro e Afeto em 01/09/2019

Aposto que você está lendo esta matéria em um telefone celular, tablet ou mesmo no computador (aliás, obrigada pelo prestígio!!!!). 

E hoje a vida é assim: rapidamente estamos informados e conectados a uma infinidade de informações, conhecimento, fotos e lugares; fazemos compras, namoramos, estudamos, ouvimos música…tudo aqui! Na palma da mão muitas vezes carregamos “a vida”. Aposto que já ouviu isso por aí ou mesmo se manifestou assim! 

Vivemos numa época de espantosa conexão. A variedade e a velocidade com que as informações são compartilhadas é impressionante. Nada que se faz, se pensa ou se cria, permanece isolado. 

O crescimento tecnológico acelerado, transforma as relações e afeta de maneira profunda a maneira pela qual o indivíduo pensa, aprende e se socializa. 

Compreender o desenvolvimento humano diante desta realidade digital é desafiador e motivo de frequentes pesquisas. Tarefa complexa. 

A realidade digital representa alguns riscos individuais e sociais, como a adição a jogos, acesso a estímulos violentos ou inapropriados à idade, sedentarismo, diminuição do convívio entre outros. Em contrapartida, não é possível imaginar o desenvolvimento do indivíduo alheio a tal realidade; ele usa a tecnologia como extensão do próprio corpo. 

São indivíduos acostumados a realizar várias atividades ao mesmo tempo, imediatistas, preferem computadores a livros, digitam ao invés de escrever, se relacionam mais através de redes sociais e compartilham tudo; convivendo com a exposição de forma confortável e ao mesmo tempo com muito menos intimidade consigo mesmo. Sobra tempo para conectar-se com todo tipo de informação externa e pouco tempo para autoconhecer-se. 

E é no autoconhecimento que podemos amparar algum tipo de controle imperativo para tamanha invasão tecnológica. O bom senso, a parcimônia e a (auto)supervisão são, ainda, o melhor meio de mediar o bom e o ruim desta novidade. 

Como já fora mencionado anteriormente, a realidade digital é motivo de muitas pesquisas. E, como a complexidade já é visível para nós leigos, não se faz muito diferente para os cientistas. 

De forma mais objetiva, a ciência trouxe e continuará trazendo alguns dados e explicações que devemos considerar ao imaginar nosso comportamento diante do desafio da era digital: 

Sabe-se que o excesso do uso do telefone celular ou tablet pode ocasionar dores de cabeça, dores nas costas, danos posturais, vermelhidão e ressecamento dos olhos e inflamação das articulações. Além de tais danos físicos, ainda temos a irritabilidade e a depressão. E não paramos por aí… temos a chance de que, ao usar tais dispositivos, nosso rendimento diminua em até quatrocentos por cento do que antes obtido. 

Com o videogame a complexidade dos dados fica ainda maior. Neste caso, o que fica em jogo (perdoem o trocadilho), é a natureza do estímulo. Ou seja, para jogos competitivos, que estimulam a rivalidade, o excesso pode gerar diminuição em habilidades sociais relacionadas à proatividade e empatia. Já para outros jogos, podemos encontrar até a descrição de que os mesmos funcionam como fatores protetivos para o relacionamento social em grupos de indivíduos da mesma idade, além de melhora da eficiência intelectual e das aquisições acadêmicas. 

Outro achado, não menos importante, se relaciona aos mecanismos atencionais e de funções executivas. É fato que ao usar dispositivos tecnológicos visivelmente conseguimos atuar em diversas atividades ao mesmo tempo. Você mesmo pode agora ler este texto enquanto compra uma passagem aérea, supervisiona seu filho no banho e planeja o pagamento de uma conta, não  é mesmo? 

Pois é… sem falar no mérito que nos damos por realizarmos tanto em tão pouco tempo (somos superhabilidosos!!! Uau!), mora aí uma relevante questão em relação ao uso dos dispositivos digitais. Sim, eles aumentam nossa capacidade de atenção alternada e seletiva (tipos de mecanismos atencionais que podemos utilizar para driblar muitas informações recebidas/executadas ao mesmo tempo). MAS… isso não ocorre por muito tempo! Ou seja, melhoramos tais níveis atencionais momentaneamente; depois, enfrentamos um cansaço mental ou a chance de não memorizarmos informações de maneira preocupante!

Outro dado curioso é o fato de que as pessoas que fazem uso de aplicativos para se localizar (encontrar um endereço, por exemplo, e dirigir até ele) passaram a apresentar uma memória espacial mais prejudicada. O uso de aplicativos com este objetivo também decorreu numa diminuição de desempenho em um instrumento que mediu funções executivas, hipotetizando que indivíduos podem prejudicar sua capacidade de planejamento caso usem deste “benefício” com muita frequência. 

E quer mais um motivo para refletir? Outro dado surpreendente: a capacidade de relatar dados autobiográficos (falar de sua própria história de forma real) mostrou-se alterada em indivíduos que faziam uso de redes sociais de forma abusiva. Será que estamos sabendo mais da vida dos outros do que da nossa própria vida?? 

É claro que cabem inúmeras discussões sobre tais aspectos da ciência. Mas, cabe também uma sincera reflexão sobre seus hábitos e daqueles que você educa…

Fique atento e reflita para a identificação dos seguintes sinais: 

  • Preocupação constante com o que acontece na internet quando está off-line;
  •  Necessidade contínua de utilizar a web como forma de obter prazer.
  • Irritabilidade quando tenta reduzir o tempo de uso.
  • Utilização da internet como forma de fugir de problemas ou aliviar sentimentos de impotência, culpa ansiedade ou depressão.
  • Mentir para familiares para encobrir a extensão do envolvimento com as atividades on-line.
  • Diminuição ou piora do contato social com amigos e familiares.
  • Falta de interesse em atividades fora da rede.
  • Comprometimento das atividades profissionais e acadêmicas, como perda do emprego ou não ser aprovado na escola.
  • Lesões nas articulações dos dedos causadas pela intensa digitação.
  • Automação no comportamento de buscar toda e qualquer resposta nos aparelhos
  • Insegurança quando está sem os aparelhos ou sem bateria.

E aí vai um último pedido… compartilhe com àqueles que desejar…mas não perca a chance de comentar sobre estas informações numa boa roda de amigos, regada à olhares e sorrisos. 

Uma vida de Cérebro e Afeto à você!!!

 


Referências: 

Wilmer et al, Smartphones and Cognition: A Review of Research Exploring the Links between Mobile Technology Habits and Cognitive Functioning. Front. Psychol. (2017) 8:605. doi: 10.3389/fpsyg.2017.00605

Kovess-Masfety, V. et al. Is time spent playing video games associated with mental health, cognitive and social skills in young children? Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. (2016) March, 51:3, 349–357. doi:10.1007/s00127-016-1179-6.

Lobel, A. et al. Video Gaming and Children’s Psychosocial Wellbeing: A Longitudinal Study Youth Adolescence (2017) 46:884–897 doi: 10.1007/s10964-017-0646-z 

Mamta Mohan et al. Does chronic exposure to mobile phones affect cognition? Functional Neurology (2016) 31:1, 47-51.

Sánchez de León et al. Mobile phone abuse or addiction. A review of the literature. Adicciones. (2012), 24: 2, 139-152.


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