Influência do Estresse sobre a memória e aprendizado

Escrito por Cérebro e Afeto em 27/02/2018

Novos neurônios (nome de uma das células que compõe o cérebro) são formados num processo denominado neurogênese. Várias pesquisas se propõem a estudar a neurogênese que ocorre numa região cerebral denominada hipocampo. Esta região é responsável por duas funções muito importantes para o ser humano: a memória e o aprendizado.

A produção de novos neurônios ocorre de forma dinâmica e regulada por fatores externos e internos do organismo. Como fatores externos que influenciam a produção neuronal podemos citar nossas experiências de vida e as emoções por elas suscitadas, como por exemplo, momentos de alegria e prazer, assim como momentos de estresse.

Quando o estresse ocorre de forma crônica, ou seja, repetidamente ao longo de um período da vida, ele induzirá modificações na neurogênese. Assim, neurônios que se formam antes de um período de estresse não sobrevivem da mesma forma daqueles formados em períodos que não sucedem de estresse (ou seja, o estresse provoca a morte neuronal ou a sua proliferação de forma atípica) e neurônios produzidos após um período de estresse diferem morfologicamente e funcionalmente dos neurônios produzidos fora do momento de estresse. Por exemplo, a separação de mãe e filho imediatamente pós-natal aumenta a proliferação de neurônios imaturos; a convivência em situações abusivas em relacionamentos de trabalho ou social pode causar alteração de neurogênese.

E ainda, de forma interessante, esses neurônios que sobrevivem após seu nascimento sob influência do estresse, podem ser mais vulneráveis a outros momentos estressantes ou até mais resilientes aos mesmos (como o que dizemos popularmente: “o que não mata, fortalece”).

Portanto, diante da dinâmica da neurogênese influenciada pelos fatores externos e internos, quando pensamos em desempenho cognitivo, o estresse pode interferir nas funções do hipocampo, como a memória e o aprendizado. Assim, uma pessoa que foi exposta ao estresse repetidamente ao longo da vida, pode ter sua capacidade de lembrar e aprender alterada.

Estudos recentes mostraram que se um indivíduo consegue mudar seu comportamento diante de uma situação de estresse, há chance de que, ao invés de haver diminuição da neurogênese, ocorra o aumento da mesma. Ou seja, identificar o evento estressor e modificar o comportamento diante dele pode diminuir as consequências da exposição ao estresse sobre a cognição.

E ainda, se o indivíduo consegue um período de recuperação após o evento estressor, sem que seja submetido ao estresse de forma repetida, fica menor a chance de que este indivíduo sofra de prejuízos de memória num período futuro da vida, como na velhice. Ou seja, interromper o ciclo da exposição repetida ao estresse pode auxiliar na prevenção de prejuízos de memória no futuro.

Formas de identificar o estresse e melhor lidar com ele podem ser trabalhadas em psicoterapia. Assim como, com a neuropsicologia, pode-se diferenciar os prejuízos cognitivos e sua origem, adequando a forma indicada de tratamento para o indivíduo.

Fonte:

Deng W, Saxe MD, Gallina IS, Gage FH. Adult-born hippocampal dentate granule cells undergoing maturation modulate learning and memory in the brain. J Neurosci. 2009;29:13532–42.

De Miguel Z, Haditsch U, Palmer TD, Azpiroz A, Sapolsky R. Adult-generated neurons born during chronic social stress are uniquely adapted to respond to subsequent chronic social stress. Molecular Psychiatry. Springer Nature, 2018. https://doi.org/10.1038/s41380-017-0013-1.


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